O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, senador Omar Aziz (PSD-AM), determinou, nesta quarta-feira (7), a prisão do ex-diretor de logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias.
A decisão foi tomada após cerca de 8 horas de oitiva e ocorre
sob a alegação de que o depoente mentiu por sucessivas vezes ao colegiado,
contrariando compromisso legal assumido de dizer a verdade.
Durante
a sessão, Aziz afirmou que “deu chances o tempo todo” para Roberto Dias relatar
os fatos de forma honesta. Senadores reclamaram da posição evasiva do depoente
e de versão falsa sobre episódio central investigado, conforme indicado por
áudios revelados nesta tarde.
“Ele vai ser recolhido agora pela polícia do senado. Ele está
mentindo desde a manhã, dei chance para ele o tempo todo. Pedi por favor, pedi
várias vezes. E tem coisas que não dá para… os áudio que nós temos do
Dominghetti são claros”, afirmou o presidente do colegiado.
A decisão provocou indignação da advogada do depoente, que
alegou que a prisão era um “absurdo” e que seu cliente estava dando
“contribuições valiosíssimas” para a comissão parlamentar de inquérito.
Antes do fim da oitiva, parlamentares governistas pediram que
Omar Aziz reconsiderasse a medida. O senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE),
líder do governo no Senado Federal, chamou atenção para o fato de que o
presidente da casa legislativa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), já havia aberto a
ordem do dia – o que impede a continuidade dos trabalhos das comissões.
O senador Marcos Rogério (DEM-RO) disse que a decisão de Aziz
configurava “abuso de autoridade”. Já Alessandro Vieira (Cidadania-SE), que
integra o grupo de parlamentares independentes ao governo, argumentou que a
detenção representava uma incoerência, já que outros depoentes que mentiram não
tiveram prisão decretada. Tal posição foi apoiada por Otto Alencar (PSD-BA),
outro crítico ao governo.
Apesar dos apelos, Aziz manteve a posição. “Tenho sido
desrespeitado todos os dias com historinha aqui. Não aceito que a CPI vire
chacota. Pessoas morrendo e eles brincando de negociar vacinas. Ele vai estar
detido agora pelo Brasil, pelas vítimas sequeladas. Ele está preso e se eu
estiver errado posso ser processado. Ele que recorra na justiça, mas ele está
preso e a sessão está encerrada. Podem levar!”, afirmou.
“Se
eu estiver cometendo abuso de autoridade, que a advogada dele me processe. Nós
não estamos aqui para brincar, para ouvir historinha de servidor que pedir
propina. Ele que recorra na Justiça, mas ele está preso e a sessão está
encerrada. Pode levar”, completou.
Roberto Dias foi exonerado do cargo de diretor de logística do
Ministério da Saúde em junho, após denúncia de suposto pedido de propina para
autorizar a compra da vacina AstraZeneca. A denúncia foi feita pelo policial
militar Luiz Paulo Dominghetti, que se apresenta como representante da empresa
Davati Medical Supply, com sede nos Estados Unidos.
Na semana passada, em depoimento à CPI, Dominghetti afirmou ter recebido um pedido de propina de Roberto Dias para liberar a compra de 400 milhões de doses do imunizante. O diretor teria cobrado US$ 1,00 por dose para negociar vacinas ao governo federal.
Durante a oitiva junto à CPI, Roberto Dias negou o pedido de
propina, que teria sido feito em um encontro em restaurante, em Brasília, no
dia 25 de fevereiro. O depoente contou aos senadores que combinou de beber um
chope com seu amigo José Ricardo Santana, um ex-funcionário da Câmara de
Medicamentos da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Na ocasião,
ele teria tido um encontro acidental com Dominghetti.
Áudios e mensagens registrados no celular de Dominghetti,
revelados pela CNN Brasil, contradizem a versão. “Os áudios que temos do
Dominghetti são claros”, ressaltou Aziz na sessão. O material é de 23 de
fevereiro – portanto, dois dias antes do encontro da suposta cobrança de
propina.
Em um dos áudios, Dominghetti afirma a um interlocutor que “a
compra vai acontecer”, que o processo está “na fase burocrática” e que Dias irá
assinar. O atravessador diz, ainda, que faria reunião em 25 de fevereiro para
“finalizar com o ministério” – o que enfraquece a versão do “encontro
acidental” apresentada por Dias.
No depoimento desta quarta-feira, Roberto Dias também repassou para a secretaria-executiva do Ministério da Saúde responsabilidades por definir preços, volumes e as empresas contratadas nas negociações por vacinas. Informações, Infomoney, Foto: Pedro França/Agência Senado