Para
um governo que foi eleito com ajuda do WhatsApp, nada mais natural que uma das
grandes crises de seu partido, o PSL, venha também de dentro do aplicativo de
mensagens. É provável que ao longo desta sexta-feira, 7, as conversas do grupo
de WhatsApp “Bancada PSL 2019” tenham novos desdobramentos com implicações que
podem, inclusive, mudar os rumos das articulações do próximo governo.
As
trocas de mensagens entre aliados de Jair Bolsonaro, reveladas pelo jornal O Globo, mostram que o
presidente eleito pediu ao deputado Eduardo Bolsonaro que costurasse apoios na
Câmara sem que isso irritasse o atual presidente da Casa, Rodrigo Maia
(DEM-RJ). “Ocorre que eu não preciso e nem posso ficar falando aos quatro
cantos o que ando fazendo por ordem do presidente. Se eu botar a cara
publicamente, o Maia pode acelerar as pautas bombas do futuro governo. Por
isso, quem tem feito mais essa parte é o delegado Waldir no plenário e o Onyx
via líderes partidários”, escreveu, em mensagem obtida pelo jornal O Globo.
O filho de Bolsonaro não dá detalhes de como
as articulações poderiam desagradar Maia, mas uma possível interpretação é de
que esteja sendo costurada uma candidatura em oposição à reeleição do
presidente da Câmara. Inclusive, Eduardo Bolsonaro relata que se encontrou com
o líder do PR, partido que deve lançar candidatura própria. O tiro, portanto,
saiu pela culatra. A informação circula pelos quatro cantos e isso pode levar a
uma certa indisposição dos aliados de Maia com os articuladores do novo governo.
Essa história começou, na
verdade, durante a madrugada de quinta-feira com uma discussão acalorada entre
a deputada eleita Joice Hasselmann e o senador eleito Major Olímpio sobre
a liderança do partido nas articulações com o governo. Joice disse que
articulação do partido está “abaixo da linha da miséria” e escreveu que está
“fazendo o trabalho para melhorar o diálogo com os políticos”.
Olímpio retrucou dizendo que Jair Bolsonaro
se reuniu com ele e com “o delegado Waldir (…) para ajustarmos a interlocução
na Câmara e no Senado (…) Nenhum de nós pediu interlocutor para nos
representar, ao contrário, se assim acontecer, será desconsideração conosco.
Tanto Waldir quanto eu recebemos as orientações do presidente que deixou bem
claro que não tem nada definido para liderança de nada e que o partido lutasse
pelos espaços”.
Espaços esses mais estreitos com
a divulgação de conchavos podem desagradar caciques como Maia — ou podem
mostrar que os 47% dos deputados que se reelegeram têm uma enorme vantagem
competitiva em relação aos novatos. De um lado, esses conflitos internos do PSL
podem virar pautas-bombas no colo do novo governo a menos de um mês da posse;
de outro, podem fortalecer os parlamentares mais experientes, que farão de tudo
para que o jogo do Congresso continue sendo jogado como sempre foi. É tudo que
o novo governo não quer. [exame / Foto reprodução ]