O ex-presidente do
Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, afirma que foi preso para impedi-lo de
vencer a eleição presidencial de 2018, que elegeu o candidato de
extrema-direita Jair Bolsonaro. Em entrevista exclusiva à BBC via cartas de sua
cela, Lula disse que o juiz Sergio Moro “fez política e não justiça” ao
sentenciá-lo.
Moro diz que
o veredicto foi confirmado por um tribunal de apelações e não foi “uma decisão
de um homem só”. Lula está cumprindo uma sentença de 12 anos.
Um mês antes
da eleição, um tribunal eleitoral proibiu Lula de concorrer, alegando que ele
havia sido condenado, e que a sentença foi confirmada em recurso. Na época,
Lula tinha uma vantagem de 20 pontos percentuais sobre seu rival mais próximo,
Jair Bolsonaro, nas pesquisas de opinião.
O Partido dos
Trabalhadores substituiu Lula nas urnas por seu colega de chapa Fernando Haddad
no dia 11 de setembro. Com menos de um mês para fazer campanha como candidato à
presidência, Haddad lutou para igualar o reconhecimento do nome de Lula.
Enquanto ele entrava no segundo turno, Haddad perdeu para o Sr. Bolsonaro em 10
pontos percentuais.
Enredo político
Proibido de
dar entrevistas pessoalmente ou por telefone, Lula respondeu a perguntas feitas
pelo jornalista brasileiro Kennedy Alencar para um documentário da BBC TV via
cartas. Nelas, Lula disse que “Bolsonaro só venceu porque não correu contra
mim”.
Lula foi
condenado pelo juiz Moro a nove anos e meio de prisão após ser condenado por
corrupção em julho de 2017 por causa de um escândalo ligado à Petrobras. Em
suas cartas, Lula argumenta que sua condenação foi politicamente motivada.
“Fui
condenado por ser o presidente mais bem sucedido da República e o que mais fez
pelos pobres”, escreveu ele, referindo-se a seu alto índice de aprovação quando
deixou o cargo depois de servir como presidente.
“[O juiz]
Moro sabia que, se agisse de acordo com a lei, teria que absolver-me e eu seria
eleito presidente”.
“Então ele
fez política e não justiça e agora se beneficia disso”, escreveu Lula,
referindo-se à nomeação do juiz Moro para o posto de ministro da Justiça pelo
presidente eleito Bolsonaro.
A decisão de
Moro de aceitar o cargo foi duramente criticada por muitos no Brasil, que
acusaram o juiz de mirar desproporcionalmente os políticos de esquerda em sua
campanha anticorrupção.
Também foi
visto como uma reviravolta de Moro, que havia dito ao jornal brasileiro O Estado
de S.Paulo em 2016 que nunca entraria na política.
Moro disse
que foi levado a tomar a decisão de se tornar ministro da Justiça “com a
perspectiva de implementar políticas fortes contra a corrupção e o crime
organizado, respeitando a Constituição, a lei e os direitos”.
Em suas
cartas, Lula também insiste em sua inocência, escrevendo que “estou preso sem
motivo”. Ele adverte colegas brasileiros que seus direitos estão sob ameaça “se
isso pode ser feito a um ex-presidente”.
Em resposta
às alegações de Lula, Moro disse que o ex-presidente foi condenado por ser “o
autor intelectual do escândalo da Petrobras”. “Cerca de US $ 2 bilhões foram
pagos em suborno usando contratos da Petrobras durante sua presidência”,
escreveu ele em mensagem a Kennedy Alencar.
Moro também
apontou para o fato de que um tribunal de apelações aprovou por unanimidade a
condenação de Lula em janeiro e aumentou a sentença para 12 anos e um mês, e o
Superior Tribunal de Justiça de Brasília confirmou sua ordem de prisão.
“Não é uma
decisão de um homem só”, escreveu Moro sobre a convicção de Lula.
Ele também
acrescentou que sua nomeação como ministro da Justiça “não tem nada a ver com a
condenação [de Lula]”.
“Eu nem
conhecia o presidente eleito em 2017 quando a sentença foi cumprida”, escreveu
ele.
Lula se
entregou à polícia em abril e foi mantido em uma cela na sede da polícia
federal em Curitiba desde então. [lula.com / Foto:
Ricardo Stuckert ]