A Bahia é o primeiro estado do Brasil a incluir os
acidentes de trânsito na lista de doenças de notificação compulsória
(obrigatória), para interesse de saúde pública. A portaria, assinada pelo
secretário estadual da Saúde, Fábio Vilas-Boas, foi publicada nesta
sexta-feira (10), no Diário Oficial do Estado, e busca aperfeiçoar as
estatísticas do setor e avançar no mapeamento das localidades e zonas de maior
incidência.
Em decorrência dos registros do sistema de informações
hospitalares do Sistema Único de Saúde (SUS), é possível estimar, com
considerável precisão, o número de mortos por acidentes de trânsito e, mais
especificamente, de motocicletas. No entanto, de acordo com o secretário, as
vítimas não fatais são de difícil mensuração.
“Com esse decreto, teremos números mais precisos, pois a
notificação compulsória é obrigatória para os profissionais de saúde e
responsáveis pelos serviços públicos e privados de saúde. Sabemos que a
subnotificação é gigantesca, mas se aceitarmos os números oficiais de feridos
internados, teremos aproximadamente, para cada morto, cerca de 20 a 25
motociclistas sobreviventes no Brasil”, explica Vilas-Boas.
O secretário ressalta ainda que atualmente não é possível
identificar os casos de acidentes de trânsito que dão entrada nos hospitais,
pois são registrados como politraumatismo, traumatismo craniano ou fraturas de
membros, e não como acidentes de trânsito. Apenas na Bahia, entre os anos de
2000 e 2017, foram registradas 34.534 mortes em acidentes de trânsito, o
equivalente à população de cidades baianas como Cachoeira ou Riachão do
Jacuípe. Deste total, 6.695 pessoas estavam dirigindo motos, enquanto 12.080
eram ocupantes de carros.
Se o número de mortos surpreende, o de acidentados é de
assustar, de acordo Vilas-Boas. Apenas nos seis primeiros meses de 2015, o
Hospital Geral do Estado (HGE), na capital, o Hospital Geral Clériston Andrade
(HGCA), em Feira de Santana, Hospital Geral de Camaçari (HGC) e o Hospital
Geral de Guanambi (HGC) registraram 3.571 acidentes envolvendo motociclistas, o
que dá uma média de quase 20 entradas na emergência por dia.
O presidente da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego
- seção Bahia (Abramet-BA), Antonio Meira Júnior, explica que não haverá
dificuldade na implementação do decreto nas unidades de saúde, pois o Código
Internacional de Doenças (CID) já permitia isso, apesar da pouca utilização.
“No preenchimento dos documentos médicos, o CID V23.4 especifica, por exemplo,
motociclista traumatizado em colisão com um automóvel (carro), pickup ou
caminhonete, mas, às vezes, o registro era feito com outro código”.[Fonte: Ascom/Secretaria da Saúde do Estado (Sesab)]