Investigado e preso na Operação
Lava Jato, o ex-deputado federal Luiz Argôlo (SD-BA) disse em depoimento à CPI
da Petrobras, nesta terça-feira (12), que é inocente, reclamou de ter sido
"alvejado" como parlamentar e afirmou que "os humilhados um dia
serão exaltados".
"Os humilhados um dia serão
exaltados. Isso é bíblico", declarou, com um terço na mão. "Todo ser
humano erra. Não só eu, como vossa excelência, como qualquer ser humano. Jesus
Cristo, que é filho de Deus, foi crucificado."
A CPI está em Curitiba, sede das
investigações sobre o esquema de desvio de dinheiro da Petrobras, para ouvir
quem está detido na
cidade.
Argôlo, que tem 34 anos e era considerado uma
promessa na política baiana, é acusado de envolvimento com o doleiro Alberto
Youssef, principal delator da Lava Jato. O Ministério Público Federal diz que
helicóptero, máquinas, cadeiras de rodas e até boletos de IPTU do ex-deputado
foram pagos por Youssef e que ele usou a mãe e o pai como laranjas para receber
dinheiro de propina da Petrobras.
Ele era do PP, partido para o qual Youssef operava,
mas se desfiliou em 2013 e migrou para o Solidariedade.
A princípio, o ex-parlamentar, que deu um abraço no
presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB), e no deputado Antônio Imbassahy
(PSDB-BA), disse que se manteria em silêncio. Ele argumentou que nada do que
falou até agora contribuiu para afrouxar sua prisão -Argôlo está detido
preventivamente na carceragem da Polícia Federal há pouco mais de um mês.
Ao longo do depoimento, que durou cerca de uma
hora, no entanto, o ex-deputado foi se abrindo. Reclamou de ter sido criticado
duramente por um ano e meio, desde que surgiram as primeiras denúncias, e
afirmou que foi julgado "de forma rápida" pelo Conselho de Ética da
Câmara.
"A única coisa que faltou foi dizer que a
falta de água foi culpa do Luiz Argôlo. Mas o resto... Passei um ano e meio
apanhando. Mas não recebi nenhuma denúncia formal do Ministério Público",
declarou.
O baiano disse que conheceu Youssef como empresário
e proprietário de hotéis na Bahia, e não como doleiro. Segundo ele, isso
ocorreu apenas depois de ter sido eleito deputado federal, em 2010.
"Me foi apresentado o empresário Alberto
Youssef. Se agora ele é um criminoso, se é doleiro, se fez delação, não coube a
mim entrar no Google e fazer uma consulta pelo seu CPF. Se ele foi condenado
pela justiça, ou absolvido, não cabe a mim esse julgamento", afirmou.
Argôlo disse que é inocente, agradeceu a
"corrente de oração" de amigos e familiares e, ao longo do
depoimento, se recusou a responder algumas perguntas, invocando o direito de
permanecer em silêncio.
TRÁFICO
Antes de Argôlo, também depuseram a doleira Nelma Kodama
e o empresário Renê Luiz Pereira, ambos presos na primeira fase da Operação
Lava Jato, em março do ano passado.
Condenado em outubro do mesmo ano a 14 anos de
reclusão pelos crimes de tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e evasão de
divisas, Pereira tinha relações com Carlos Habib Chater, também preso na
Operação Lava Jato e amigo do doleiro Alberto Youssef.
O empresário afirmou que duvida da credibilidade
das ações da Polícia Federal, disse que foi condenado por algo que não fez, que
não sabe nada sobre tráfico de drogas e que nunca teve relação com políticos.
Durante seu depoimento, afirmou que conheceu alguns
operadores presos na Operação Lava Jato somente dentro da carceragem e nunca
fora da prisão.
Quando questionado pelo relator da CPI, deputado
Luiz Sérgio (PT-RJ), sobre várias gravações de suas conversas feitas pela
Polícia Federal, Pereira disse: "Não tenho nada a responder; não tenho
conhecimento dessa conversa. Essa conversa nunca existiu. [Mas foi gravada]
Como saberemos, né? Não será a primeira vez [que a PF grava algo que não
ocorreu]".
Pereira não quis mais responder aos deputados após
se desentender com o deputado Aluisio Mendes (PSDC-MA). Policial federal
licenciado, o deputado disse que não admitia que o preso duvidasse dos
procedimentos da Polícia Federal. |Matéria do otempo | Foto da internet