Na noite de hoje (22), o presidente da República e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), foi o primeiro concorrente ao Palácio do Planalto a ser entrevistado pelo Jornal Nacional, da TV Globo.
O presidente mentiu ao ter negado ter
xingado ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e questionou a
transparência das urnas eletrônicas. Leia abaixo a íntegra da entrevista.
[William Bonner]: Olá, boa noite. Nós
vamos entrevistar, ao longo desta semana, os candidatos à presidência mais bem
colocados na pesquisa Datafolha de intenção de voto que foi divulgada no dia 28
de julho. Pela ordem determinada em sorteio, com a presença dos assessores dos
partidos, Jair Bolsonaro, do PL, é o entrevistado de hoje; amanhã, Ciro Gomes,
do PDT; na quinta-feira, Luiz Inácio Lula da Silva, do PT; e, na sexta-feira,
Simone Tebet, do MDB.
[Renata Vasconcellos]: Nós vamos
abordar os temas que marcam cada uma das candidaturas. O tempo total dessa
entrevista é de 40 minutos e, ao fim, o candidato vai ter um minuto para as
considerações finais. Candidato Bolsonaro, boa noite. Obrigada pela presença.
[Jair Bolsonaro]: Boa noite.
[William Bonner]: Eu agradeço também
a sua presença, candidato, e o tempo começa a ser contado a partir de agora.
Nós vamos começar a entrevista com um assunto que tem mobilizado os
brasileiros. O senhor tem xingado ministros do Supremo Tribunal Federal, tem
feito ataques, sem prova nenhuma, ao sistema eleitoral brasileiro, o senhor
chegou inclusive a ameaçar não ter eleição no Brasil, como se coubesse ao
senhor decidir uma coisa dessas. Candidato, com franqueza: o que é que o senhor
pretende, ou o que é que o senhor pretendeu com isso? O senhor pretendeu, por
acaso, criar um ambiente que, de alguma forma, permitisse um golpe, contra o
qual, inclusive, a sociedade civil se manifestou agora, com a divulgação de
dois manifestos, ou outros manifestos, em defesa da democracia?
[Jair Bolsonaro]: Primeiro: você não
está falando a verdade quando fala "xingar ministros". Não existe.
Isso não existe, é um fake news da sua parte. Outra coisa: eu quero é
transparência nas eleições. Vocês, com toda certeza, não leram o inquérito de
2018 da Polícia Federal, que, inclusive, está inconcluso. E aquela pergunta que
eu sempre faço: se você pode botar uma tranca a mais na sua casa para evitar
que ela seja assaltada, você vai fazer ou não? Então, esse é o objetivo disso
que eu tenho falado sobre o Tribunal Superior Eleitoral. E outra coisa: em
2014, tivemos eleições, no segundo turno o PSDB duvidou da lisura das eleições
e contratou uma auditoria, e a conclusão da auditoria do PSDB? Que as urnas são
inauditáveis. E só para ficar bem tranquilo aqui, Bonner: 2018 houve uma
denúncia de fraude e a senhora Rosa Weber determinou que fosse aberto inquérito
pela Polícia Federal para apurar fraude, que, obviamente, se houve fraude, eu
ganhei, e quem fraudou seria eu. A PF começou a apuração. E querem informou o
que eu vou te falar aqui para a PF foi o Tribunal Superior Eleitoral. Numa das
páginas do inquérito está assinado pelo chefe do T.I. do TSE que hackers
ficaram por oito meses dentro do TSE, inclusive com a senha de um ministro, de
nome Banhos, além de senha de outros cinco servidores. Imediatamente, a Polícia
Federal pediu os logs, as impressões digitais do que ocorreu nas eleições de
2018. O TSE podia ter informado no mesmo dia, mas, sete meses depois, o TSE
informou que os logs haviam sido apagados. Então, a grande interrogação é
exatamente essa daí: nós queremos evitar que dúvidas pairem por ocasião das
eleições agora desse ano. Nada mais disso muito.
[William Bonner]: Candidato, é
curioso que o senhor se refira a esse episódio, porque o senhor inclusive foi
acusado de ter divulgado informações sigilosas de investigações inconclusivas,
mas sobre a transparência que o senhor afirma defender das urnas, órgãos
fiscalizadores como Tribunal de Contas da União, Advocacia Geral da União,
associações de juízes, associações de juristas, associações de delegados da
Polícia Federal, todos já atestaram a segurança das urnas eletrônicas. Eu vou
além: a transparência e a segurança das urnas eletrônicas têm sido motivo de
orgulho da maioria da população brasileira. Agora, o senhor começou sua
resposta afirmando que eu tinha cometido fake news; em nome da verdade,
candidato: o senhor xingou um ministro do Supremo de canalha. O senhor fez isso
com microfone...
[Jair Bolsonaro]: Sim.
[William Bonner]: Então, perdão?
[Jair Bolsonaro]: E ele vinha fazendo
contra mim.
[William Bonner]: Mas, candidato, eu
lhe perguntei qual era o seu propósito; lembra a pergunta que eu fiz ao senhor?
[Jair Bolsonaro]: Falou ministro. Foi
um ministro específico.
[William Bonner]: Senhor?
[Jair Bolsonaro]: Tá ok? Está refeita
aqui a dúvida?
[William Bonner]: Mas o... Não, é que
o senhor disse aqui que eu cometi fake news. Só para esclarecer, a pergunta que
eu lhe fiz é: qual era o seu propósito ao xingar um ministro de canalha e
ameaçar não permitir que as eleições fossem realizadas, se isso não lhe compete
fazer? Não é uma atribuição do Presidente da República, é uma atribuição
constitucional, candidato.
[Jair Bolsonaro]: Quem vem sendo
perseguido o tempo podo pelo Ministro do Supremo sou eu, por um inquérito
completamente ilegal, e as medidas que vinham sendo tomadas por ex-ministro
eram contestadas. Lá atrás, inclusive, a procuradora Raquel Dodge deu uma
parecer para que esse inquérito deixasse de existir, e continua existindo. A
temperatura subiu. Hoje em dia, pelo que tudo indica, está pacificado. Espero
que seja uma página virada. Até você deve ter visto, por ocasião da posse do
senhor Alexandre de Moraes, um certo contato amistoso nosso lá; e, pelo que
tudo indica, está pacificado. E quem vai decidir essa questão de transparência
ou não serão, em parte, as Forças Armadas, que que foram convidadas a
participar da comissão de transparência eleitoral.
[William Bonner]: As Forças Armadas
são uma das partes desse grupo que analisa a segurança. A grande questão não é
nem a presença das Forças Armadas, candidato, a grande questão que se dá é que
o senhor se coloca como patrono das Forças Armadas, e a forma como o senhor
ataca o sistema eleitoral é que causa ruído e que causa...
[Jair Bolsonaro]: Fique tranquilo,
Bonner.
[William Bonner]: Uma certa
intranquilidade no ambiente eleitoral.
[Jair Bolsonaro]: Teremos eleições, o
ministro Alexandre de Moraes acabou de assumir. Amanhã ele tem um encontro,
pelo que me parece, com o Ministro da Defesa para tratar desse assunto sobre
transparência eleitoral. Tenho certeza de que o ministro Alexandre de Moraes
vai chegar a bom termo essa questão de eleições. Agora, precisei provocar para
que chegasse a esse ponto. Pode ter certeza de que vão ter eleições limpas e
transparentes este ano.
[William Bonner]: O senhor costuma
dizer que defende a liberdade. Mas a impressão que dá, quando a gente vê
manifestações de apoiadores seus, é de que nem todos têm a mesma percepção
daquilo que o senhor defende, porque é muito comum vermos apoiadores seus
defendendo medidas absolutamente inconstitucionais: fechamento do Congresso,
fechamento do Supremo Tribunal Federal, golpe militar, intervenção militar, com
Bolsonaro, essas coisas são ditas. Inclusive tem uma frase que é muito ouvida
também nessas manifestações por parte desses grupos que é: "Eu
autorizo". No entanto, o senhor não os desautoriza, candidato. Isso não é
uma sinalização ruim dessa parcela de apoiadores?
[Jair Bolsonaro]: Você vê as
manifestações nossas sem qualquer ruído. Uma lata de lixo sequer virada nas
ruas. Eu considero como liberdade de expressão. Essa? Artigo 142, o que é o
artigo 142? É um artigo da Constituição que eu entendo da maneira como alguns
pouquíssimos entendem. Quando alguns falam em fechar o Congresso é liberdade de
expressão deles, eu não levo para esse lado; e, para mim, isso daí faz parte da
democracia. Não posso eu ameaçar fechar o Congresso ou o Supremo Tribunal
Federal. Então, Bonner, eu não vejo nada de mais, vejo como liberdade de
expressão, como alguns fazem a AI-5. Não existe mais AI-5, você punir alguém
por alguém querer levantar uma faixinha no meio da multidão, AI-5? Isso é uma
coisa que, no meu entender, não leva a lugar nenhum. O outro lado?
[William Bonner]: Eu não quero
interrompê-lo, mas é que o senhor disse algo? Perdão, candidato, o senhor disse
algo muito importante ainda há pouco. O senhor disse, referindo-se ao ministro
Alexandre de Moraes, que teremos eleições, elas serão limpas, etc. Com o
intuito de tirar esse estresse, tirar a intranquilidade desse momento eleitoral
no Brasil, o senhor não quer aproveitar essa oportunidade, diante de milhões de
brasileiros, para assumir um compromisso eloquente de que vai respeitar o
resultado das urnas seja ele qual for?
[Jair Bolsonaro]: Seja qual for,
eleições limpas, devem e têm que ser respeitadas. Limpas e transparentes têm
que ser respeitadas.
[William Bonner]: Está atestado que
as eleições brasileiras são limpas e são transparentes e que as urnas são
auditáveis, isso posto, eu lhe pergunto mais uma vez: o senhor vai assumir um
compromisso diante de milhões de brasileiros de respeitar o resultado das urnas
e estimular os seus seguidores a fazer o mesmo, candidato?
[Jair Bolsonaro]: Serão respeitadas
as das urnas desde que as eleições sejam limpas e transparentes. Como você diz
que são auditáveis, e, em 2014, não aconteceu isso? Mas tudo bem, vamos botar
um ponto final nisso?
[William Bonner]: O senhor vai botar
um ponto final nisso?
[William Bonner]: Então nós temos uma
declaração importante do candidato Bolsonaro assumindo publicamente o respeito
ao resultado das urnas em outubro. Renata.
[Renata Vasconcellos]: Pandemia,
candidato. Nos momentos mais dramáticos, o senhor imitou pacientes de covid com
falta de ar. Sobre as mortes, o senhor disse: "E daí? Eu não sou
coveiro". O senhor estimulou o uso e usou dinheiro público para comprar
medicamento comprovadamente ineficaz contra a covid. O senhor desestimulou a
vacinação. O senhor não teme ser responsabilizado, senão pelos eleitores, pela
história?
[Jair Bolsonaro]: Olha, nós compramos
mais de 500 milhões de doses de vacinas, só não se vacinou quem não quis. Eu
acho que vocês dois se vacinaram, comprada por mim. E em tempo bem mais rápido
que outros países, que não tinha no mercado. Não poderia eu, num primeiro
momento, por exemplo, falar que devíamos assinar certos contratos, como, por
exemplo, com a Pfizer, onde a Pfizer não garantia a entrega da vacina. A
primeira vacina no mundo foi dada em dezembro de 2020, em janeiro, nós já
estávamos vacinando no Brasil. Então, fizemos a nossa parte. E o grande erro
disso tudo foi um trabalho forte da grande mídia, entre eles a Globo,
desestimulando os médicos a fazerem o tratamento precoce, que isso é conhecido
como uma liberdade do médico, quando algo é desconhecido, como até hoje é
desconhecida ainda os efeitos, possíveis efeitos colaterais da vacina,
desaconselhar, inibir, ameaçar, cassar o registro de médicos, isso que foi
errado feito durante a pandemia.
[Renata Vasconcellos]: Mas,
candidato, o senhor desestimulou a vacinação, isso não tem nada a ver com
liberdade, o senhor chegou a dizer que quem tomasse a vacina poderia virar
jacaré. O senhor associou a vacinação ao vírus da Aids. E mais, quanto as
vacinas, a Pfizer esperou 93 dias por uma resposta quando a empresa procurou o
governo tratar de vacina. A Coronavac, o senhor desautorizou o ministro e
chegou a suspender a compra da vacina.
[Jair Bolsonaro]: Não, não houve
suspensão da minha parte. A questão da Pfizer, o contrato da Pfizer estava
escrito "não nos responsabilizamos por qualquer efeito colateral".
Outra coisa, a Pfizer não apresentou quais seriam os possíveis efeitos.
[Renata Vasconcellos]: Figura de
linguagem? O senhor acha que é o caso de brincadeira?
[Jair Bolsonaro]: Não, não é
brincadeira, isso faz parte da literatura portuguesa. Brincadeira é, no momento
difícil para o Brasil, a imprensa desautorizar os médicos pela sua liberdade de
clinicar. Esse foi o grande problema. E outra coisa, eu não errei nada do que
eu falei. Eu falei no início da pandemia que nós devíamos cuidar de tratar dos
idosos, pessoas com comorbidade, e o resto a população trabalhar. Isso eu falei
e não errei. Hoje muitos países já falam que o lockdown foi um erro, que as
pessoas se contaminavam muito mais em casa do que nas ruas. E outra coisa, se
falava em fazer o que no lockdown? Lockdown um mês, dois meses, no máximo, para
achatar a curva. Demorou mais de um ano o lockdown e até hoje continua gente
falecendo por covid. Ou seja, o lockdown serviu, sim, para atrapalhar a nossa
economia e contaminar mais pessoas ainda em casa.
[Renata Vasconcellos]: Candidato, mas
as medidas socioeconômicas importantíssimas, elas foram adotadas por governos
no mundo inteiro justamente para sustentar o fique em casa no pico da pandemia,
fique em casa se puder, para que as pessoas pudessem proteger a própria vida e,
ao mesmo tempo, receber o amparo econômico, para evitar o colapso dos
hospitais, aliás, como nós vimos em Manaus, pessoas morrendo com falta de
oxigênio por um erro de logística e gestão do seu ministro da saúde.
[Jair Bolsonaro]: Negativo, negativo.
Em menos de 48 horas estavam chegando já cilindros lá em Manaus. Lá foi uma
coisa atípica, anormal, que aconteceu de uma hora para outra. Menos de 48
horas, Menos de 48 horas, cilindros começaram a chegar em Manaus de alguns
pontos do Brasil. Fizemos a nossa parte em Manaus. Não faltou de nossa parte
recursos bilionários para governadores e prefeitos enfrentarem a covid.
Construí hospitais de campanha, então fizemos a nossa parte. Raros países do
mundo que fez algo melhor do que nós fizemos. E o resultado, até a OMS
reconhece isso daí. Fizemos a nossa parte.
[Renata Vasconcellos]: O fato é que
Manaus ficou mais de uma semana, nove dias, sem receber o apoio das pessoas com
falta de oxigênio nos hospitais.
[Jair Bolsonaro]: Não é verdade,
isso. Não é verdade.
[Renata Vasconcellos]: Agora,
candidato, sobre o seu comportamento com as frases que eu mencionei, imitando
pacientes com falta de ar, muitos viram isso como sinal de falta de compaixão,
falta...
[Jair Bolsonaro]: Eu queria que você
botasse no ar essa... Eu imitando falta de ar. Realmente...
[Renata Vasconcellos]: Mas por falta
de compaixão...
[Jair Bolsonaro]: Ah, bom! Então
começou a mudar. Você começou a mudar.
[Renata Vasconcellos]: Desculpe, só
para eu completar a minha frase: muitas viram isso como uma falta de compaixão,
de solidariedade com os doentes, com as vítimas, os parentes das vítimas. O
senhor se arrepende?
[Jair Bolsonaro]: A solidariedade, eu
me manifestei conversando com o povo nas ruas, visitando a periferia de
Brasília, vendo pessoas humildes que foram obrigadas a ficar em casa sem ter um
só apoio do governador ou prefeito. Isso que aconteceu. E nós fizemos
exatamente o quê? Demos o auxílio emergencial imediatamente. 68 milhões de
pessoas humildes começaram a receber o auxílio emergencial. Eles estavam
condenados a morrer de fome dentro de casa.
[Renata Vasconcellos]: O senhor não
se arrepende das declarações?
[Jair Bolsonaro]: Ou ir para as ruas
fazer o que não queriam. Poderia ter um caos na rua, caos porque pessoas com
fome indo para as ruas. Criamos imediatamente o auxílio emergencial. Fizemos a
nossa parte. Demos tanto dinheiro para governadores e prefeitos que a gente não
tem notícias de eles terem atrasado folha de pagamento ou até mesmo décimo
terceiro, e quando tivemos a oportunidade de investigar fraudes, aquela CPI do
circo feita por Renan Calheiros, Omar Aziz e Randolfe Rodrigues, não quiseram
enviar os recursos enviados para nove governadores do Nordeste. Fizemos a nossa
parte e tratei com muita seriedade essa questão. Agora, não adotei o
politicamente correto. Não estimulei. Inclusive, o que eu falei é que, quando
foi decidido o que era essencial, o trabalho essencial, eu falei: deve ser todo
aquele necessário para o homem ou a mulher levar o pão para dentro de casa. A
própria OMS concordou comigo nessa questão.
[Renata Vasconcellos]: Então o senhor
chama isso de politicamente incorreto? O senhor não se arrepende do seu
comportamento, das frases que fez, imitando pessoas com falta de ar como
solidariedade com as famílias que sofreram?
[Jair Bolsonaro]: Você acabou de
falar que eu não imitei falta de ar, voltou a falar em falta de ar novamente.
Você voltou a falar em falta de ar. [Renata Vasconcellos]: 700 mil mortos. A
minha pergunta é muito específica. O senhor se arrepende disso?
[Jair Bolsonaro]: Lamento as mortes.
Não tem quem não perdeu um parente, um amigo. Lamento as mortes. Agora, não
poderia ser tratada a covid da forma como começou a ser tratada. E quando você
fala em tratamento precoce, lembre-se que, no protocolo do Mandetta, tinha o
tratamento precoce lá, mas só em casos graves, onde eu não concordei com ele.
No início, o protocolo do Mandetta era "vá para casa, quando sentir falta
de ar, procure o hospital". Falei: procurar pra quê, se não tem remédio? E
não tinha vacina naquele momento.
[William Bonner]: Bom, vamos falar de
economia.
[Jair Bolsonaro]: Vambora...
[William Bonner]: Eu só queria
observar: a Renata não retirou a observação sobre o fato de o senhor ter
imitado pessoas com falta de ar.
[Jair Bolsonaro]: Ela retirou.
[William Bonner]: Ela disse... Não,
não, não. Ela disse que o senhor imitou gente com falta de ar, e que faltou
também a solidariedade. Foram as duas coisas.
[Renata Vasconcellos]: E o senhor não
respondeu à minha pergunta de ter se arrependido ou não, mas tudo bem.
[William Bonner]: Não, mas,
candidato, o senhor já deixou claro que o senhor acha que mais brasileiros se
contaminaram por ficar dentro de casa sem se expor...
[Jair Bolsonaro]: Não, não, acho não.
[William Bonner]: Não, o senhor disse isso.
[Jair Bolsonaro]: Nova York mostra
isso aí.
[William Bonner]: O senhor disse
isso.
[Jair Bolsonaro]: Estudos de fora do
Brasil.
[William Bonner]: Então vamos agora
para a economia?
[Jair Bolsonaro]: A contaminação foi
maior dentro de casa do que fora de casa.
[William Bonner]: Vamos para a
economia. Vamos para a economia, que é um tema que o senhor também gostaria de
abordar, certamente. Em 2018, como candidato, o senhor disse assim numa
entrevista: "Eu sei do que é que o povo precisa: inflação baixa, taxa de
juros menor, dólar menor". Aí veio o seu governo, os juros básicos da
economia dobraram, a inflação mais que dobrou, o dólar, que estava em R$ 3,90,
está em mais de R$ 5,00. É verdade que tudo isso se deu num cenário de pandemia
e num cenário também de guerra na Ucrânia. Ocorre que esse cenário não mudou,
não é? A pandemia não acabou, infelizmente, e a guerra da Ucrânia é uma
realidade ainda. Pergunto, candidato, qual é o seu plano, uma vez reeleito,
para cumprir, num segundo mandato, as promessas que o senhor fez em 2018 para a
economia?
[Jair Bolsonaro]: Primeiro: as
promessas foram frustradas pela pandemia, por uma seca enorme que tivemos no
ano passado e também pelo conflito da Ucrânia com a Rússia. Se você pegar os
dados de hoje, você vê o Brasil como talvez o único país do mundo com uma
deflação, um país onde vai ter uma inflação menor do que, por exemplo,
Inglaterra, menor que os Estados Unidos. Você vê também que a taxa de
desemprego tem caído no Brasil. Os números da economia são fantásticos
levando-se em conta o resto do mundo. Nós não podemos... Se fosse apenas o
Brasil com esse problema, eu seria o responsável. O que nós pretendemos fazer? É
continuar exatamente na política que vínhamos fazendo desde 2019. A grande
vacina a favor da economia em 2019 foram reformas, como, por exemplo, da
previdência. Foi, por exemplo, a Lei da Liberdade Econômica. Foi a modernização
das NRs, das normas regulamentadoras. Milhares de normas nós deixamos de lado,
nós revogamos. Então, a grande reforma da economia foi feita... A grande vacina
foi feita em 2019, e fez com que nós pudéssemos suportar 2020. Nós pegamos 2020
e 2021 e tivemos um saldo positivo de quase três milhões de empregos no Brasil,
diferente de 2014 e 2015, que tivemos uma perda de quase três milhões de
empregos no Brasil. E isso é sinal do quê? Competência da equipe econômica.
Programas como, por exemplo, o Pronampe e o BEM, preservaram mais de dez
milhões de empregos no Brasil. O próprio auxílio emergencial, num primeiro
momento, R$ 600,00, fez com que a economia, em especial nos pequenos
municípios, o município não colapsasse. Então, essas medidas, entre outras,
fizeram a gente romper 2020 e 21; 22, quando veio a guerra agora, problema nós
tivemos, fui na Rússia negociar fertilizantes com o presidente Putin. Se não
tivesse ido, não teríamos fertilizantes para a nossa safra agora desse segundo
semestre. Isso é importante.
[William Bonner]: Não, não...
[Jair Bolsonaro]: Isso garantiu que a
segurança alimentar do nosso Brasil e do mundo.
[William Bonner]: Não, só para
concluir, então, em um segundo mandato, o senhor daria sequência aos planos que
foram estabelecidos e desenvolvidos no primeiro mandato? [Jair Bolsonaro]:
Bonner, nós somos o sétimo país mais digitalizado do mundo. Nós fizemos muita
coisa no Brasil, atendemos realmente a todas as camadas da sociedade. Só agora,
na questão do IPI, a proposta do Paulo Guedes, que está parada no Supremo Tribunal
Federal, pretendamos diminuir impostos de 4 mil produtos em 35% de IPI.
[William Bonner]: Segundo mandato?
[Jair Bolsonaro]: Não, desse agora. É
que a proposta parou no Supremo Tribunal Federal.
[William Bonner]: Estávamos há
semanas?
[Renata Vasconcellos]: Agora,
senhores, para que a gente possa abordar?
[Jair Bolsonaro]: Isso começou há
dois meses, a redução do IPI. Não foi de agora.
[Renata Vasconcellos]: Para que nós
possamos abordar nessa entrevista o maior número de temas, vamos prosseguir. Eu
vou falar sobre meio ambiente. Em 2020, o seu então Ministro do Meio Ambiente,
Ricardo Salles, disse que era para aproveitar que a imprensa toda estava focada
na cobertura da pandemia para ir desregulamentando as leis ambientais, que ele
chamou de "Passando a Boiada". Fato é que, no seu governo, a taxa
anual de desmatamento da Amazônia deu um salto, é a maior em 15 anos. O senhor
continua apoiando essa política de desregulamentação?
[Jair Bolsonaro]: Olha, você tem que
pensar que na Amazônia você tem quase 30 milhões de habitantes lá. Tem 30
milhões de brasileiros na Amazônia. Primeira preocupação é essa. Outra,
qualquer propriedade lá tem que preservar 80%, e pode usufruir de 20%. Eu
tentei, nos primeiros dois anos de mandato, fazer a regulação fundiária, para
saber, por exemplo, qualquer local desmatado, ou com foco de calor, de quem é o
CPF da propriedade. O presidente da Câmara não colaborou para botar essa
proposta avante. Agora, quando se fala em Amazônia, por que não se fala também
agora na França, que há mais de 30 dias está pegando fogo? A mesma coisa está
pegando fogo na Espanha e Portugal. Califórnia pega fogo todo ano. No Brasil,
infelizmente, não é diferente, acontece. Grande parte disso daí, alguma parte
disso daí é criminoso, sei disso. Outra parte não é criminoso. É o ribeirinho que
toca fogo ali na sua pequena propriedade.
[Renata Vasconcellos]: Uma coisa é
incêndio natural, outra coisa é o desmatamento provocado pelo homem.
[Jair Bolsonaro]: O pantanal
sul-mato-grossense é comum pegar fogo de forma espontâneo.
[Renata Vasconcellos]: Candidato, a
favor das críticas dos especialistas, a sua política ambiental tem os números.
No seu governo, a taxa anual de desmatamento na Amazônia saltou de 7500
quilômetros quadrados em 2018 para 13 mil ano passado. Levantamento do
Mapbiomas mostrou que 97% dos alertas de desmatamento emitidos desde 2019 não
foram fiscalizados pelos órgãos responsáveis, 97%. Especialistas dizem que
quando o senhor desautoriza, por exemplo, a destruição de equipamentos pelos
órgãos fiscalizadores, ou quando o senhor desmonta órgãos, como o Ibama, o
senhor está passando uma mensagem de incentivo a quem desmata ou ao garimpo
ilegal.
[Jair Bolsonaro]: Primeira coisa, a
destruição, como da Eley, é se você não puder retirar o equipamento do local. O
que vinha acontecendo, e ainda vem, infelizmente, é que o material pode ser
retirado do local, porque se chegou lá, pode ser retirado, e há o abuso de uma
parte. Como eu disse para você?
[Renata Vasconcellos]: Abuso de qual
parte?
[Jair Bolsonaro]: Tem locais na Amazônia,
ali, que é permitido.
[Renata Vasconcellos]: Desculpa, não
entendi, abuso por parte do órgão fiscalizador?
[Jair Bolsonaro]: Por parte do Ibama.
[William Bonner]: Por quê, candidato?
O que seria o abuso do Ibama?
[Jair Bolsonaro]: O que diz a lei? Um
trator, por exemplo, você tem que tocar fogo se não puder retirar daquele
local. O que muitas vezes o pessoal do Ibama faz? Toca fogo mesmo podendo retirar
o material de lá.
[William Bonner]: Mas a quem
interessa defender a posse de um trator utilizado para derrubar árvores na
Amazônia, candidato?
[Jair Bolsonaro]: Mas não está
derrubando árvores na Amazônia, está derrubando em áreas? Muitas vezes, a lei
não fala se o local é permitido ou não.
[William Bonner]: A quem interessa,
candidato?
[Jair Bolsonaro]: Tem sido destruído.
A minha orientação é cumprir a lei. Nada mais além disso aí.
[Renata Vasconcellos]: Órgãos
fiscalizadores?
[Jair Bolsonaro]: Olha só, a Amazônia
é do tamanho da Europa Ocidental. Ali, na Amazônia, cabe uma Alemanha, cabe uma
França, cabe uma Itália, cabe um Portugal, cabe um montão de países. Você pensa
que fiscalizar evitar de pegar fogo é assim: "Vamos lá"?
[Renata Vasconcellos]: Órgãos
fiscalizadores para destruir equipamentos apreendidos?
[Jair Bolsonaro]: Não desautorizo,
mando cumprir a lei. A lei fala que se o material puder ser retirado de lá,
assim como entrou, não é para ser destruído.
[William Bonner]: Mas com que
propósito mesmo? Eu não entendi.
[Jair Bolsonaro]: Cumprir a lei. O
propósito é cumprir a lei.
[Renata Vasconcellos]: Eu tenho aqui
uma aspa...
[Jair Bolsonaro]: São quase 30
milhões de pessoas que têm que sobreviver.
[Renata Vasconcellos]: O senhor disse
que não é para queimar nada, maquinário, nem trator. Mas vamos adiante, o fato
é que sobre o meio ambiente, em 2018 o mundo tinha uma visão sobre o
compromisso ambiental do Brasil, hoje o mundo vê o Brasil como um destruidor de
florestas. No segundo mandato, o senhor vai... o que o senhor vai fazer para
mudar essa imagem?
[Jair Bolsonaro]: Primeiramente...
destruidor de florestas, é uma mentira. Ninguém quer destruir floresta por
livre e espontânea vontade. O acordo Mercosul e União Europeia estava travado,
com os problemas agora da guerra Ucrânia e Rússia, a União Europeia quer
acelerar o acordo conosco, para o Mercosul. E tem mais, a Alemanha está usando
combustíveis fósseis. Por quê? Se os países que diziam que nós devíamos cada
vez mais buscar aí energia limpa, concordo com eles. Mas a realidade é outra
completamente diferente. Não é a realidade daquilo que nós... aquilo que a
gente acha que deve ser, é o que tem que ser. Países da Europa já estão em
contato conosco, por exemplo, atrás do do hidrogênio verde. O Brasil será uma
grande potência fornecedora de energia hidrogênio verde, como já temos atestado,
né, no limite máximo, temos até o equivalente a 50 Itaipus na costa do
Nordeste. E nós vamos exportar esse hidrogênio verde para a Europa toda. Ou
seja, o Brasil é exemplo para o mundo. Você pega, está na minha frente por
coincidência aqui, por exemplo, as áreas reservadas em países outros para a
agricultura, não é pecuária, é agricultura. Somente a União Europeia, é de 45 a
65%. Você pega países como Alemanha, 56% para a agricultura. Você pega o Reino
Unido, 63% para a agricultura. O Brasil preserva 2/3 — 66% da sua área verde. O
Brasil não merece ser atacado dessa forma.
[William Bonner]: Vamos falar de
política?
[Jair Bolsonaro]: No fundo, há um
interesse no agronegócio, é deixar o Brasil de lado. Agora, cada vez mais o
mundo vê, uma própria... disse há dois meses, três meses atrás, disse o quê?
Que o mundo sem o agronegócio do Brasil passa fome.
[William Bonner]: Vamos ver se o
Brasil consegue mudar essa imagem.
[Jair Bolsonaro]: Eu vou tentar
mudar, sim, mas não é isso tudo que falam....
Leia mais no Uol / Foto TVGlobo/reprodução