A Federação Nacional dos Trabalhadores em
Empresas dos Correios e Similares (FENTECT) indicou para o próximo dia 18 de
agosto o início de uma greve geral da categoria por tempo indeterminado. A
mobilização é uma tentativa de pressionar o governo diante da redução nos
direitos da categoria e o desrespeito ao acordo coletivo que deveria valer até
2021, assim como a ausência de contraproposta à negativa do setor quanto ao
pacote de medidas proposto pela administração federal.
A paralisação
deveria começar já nesta terça-feira (4), mas devido à quantidade de sindicatos
regionais de trabalhadores, a FENTECT decidiu adiar para a paralisação para
daqui a duas semanas. Assembleias devem ser realizadas em 17 de agosto para
confirmar a greve, que tem prazo indeterminado para ser encerrada.
De acordo com a
organização, 70 direitos dos trabalhadores dos Correios foram revogados, o que
inclui benefícios como vale-alimentação, auxílio-creche e um corte de 30% no
adicional de risco. Além disso, a FENTECT aponta que os pagamentos de agosto
chegaram com descontos indevidos, enquanto a parcela a ser paga pelos
funcionários em planos de saúde foi ampliada pela empresa de forma incompatível
ao piso salarial pago a eles, o que acabou deixando muitos sem cobertura.
Medidas como essa,
assim como a falta de equipamentos de proteção individual durante a pandemia,
são citadas pela federação como um descaso à vida dos trabalhadores e também
dos clientes dos Correios. Como forma de garantir maior segurança, a federação
também cita ter diversas ações judiciais em tramitação, como tentativas de
obrigar os Correios a fornecer álcool em gel, sabonetes, testes para os
funcionários e produtos para desinfecção de pacotes e agências. De acordo com a
FENTECT, pelo menos 50 colaboradores da estatal já teriam morrido vítimas do
coronavírus, com o governo, aqui, também sendo acusado de falta de
transparência.
Além disso, a
federação mais uma vez acusa a administração federal de tentar sucatear os
Correios, investindo em desmontes que serão usados para justificar uma
privatização. A empresa está na lista de possibilidades desde o início do
governo Jair Bolsonaro, em 2019, com os conflitos entre a empresa e seus
sindicatos de funcionários se intensificando na mesma medida em que propostas
são apresentadas para conter o rombo de R$ 2,4 bilhões nas contas da estatal.
A greve, se
confirmada, vem em um momento crítico para o comércio eletrônico brasileiro,
que passa por alta história desde março, quando começou o estado de isolamento
social por causa do coronavírus. De acordo com dados da Neotrust, houve aumento
de mais de 32% nas compras online apenas nos primeiros três meses deste ano,
enquanto a pandemia ainda estava em seus primeiros dias.
Equilíbrio financeiro
De acordo com os
Correios, o novo acordo coletivo que está sendo rejeitado pela categoria bem
como uma forma de preservar a sustentabilidade da estatal e recuperar o déficit
registrado ao longo dos últimos anos. Além disso, a estatal nega que os
benefícios dos funcionários estejam sendo reduzidos e diz que a proposta
aproxima a categoria do que é previsto pela CLT, algo que é recomendação,
também, da Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (SEST).
Entre as propostas
feitas pelo governo estão reduções no bônus de férias (de 2/3 para 1/3 do
salário), no adicional noturno e nos períodos de licença maternidade. Além
disso, o Vale-Cultura e pagamentos de multas e benefícios extras dados no final
do ano seriam extintos, gerando o que a administração federal afirma ser uma
economia de, pelo menos, R$ 600 milhões, capaz de cobrir o déficit nas contas
dos Correios em alguns anos.
Os Correios dizem que não estão descumprindo a lei e afirmam que
as mudanças são necessárias diante do atual estado da companhia e do país. Além
disso, a estatal negou a ausência de equipamentos de proteção individual para
funcionários e agências, mas não divulgou o total de colaboradores contaminados
com o coronavírus desde o início da pandemia. Fonte: InfoMoney / Foto: Agência Brasil