A presidente do
Ibama, Suely Araújo, pediu nesta segunda-feira, 7, exoneração do cargo. À
frente do órgão ambiental desde junho de 2016, ela tomou a decisão um dia após
o novo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o presidente Jair Bolsonaro
questionarem via Twitter um contrato de locação de viaturas assinado por ela em
dezembro.
Depois de
postar no sábado que estava lendo os Diários Oficiais dos últimos 60 dias,
Salles publicou no domingo uma foto do contrato entre o Ibama e a Companhia de
Locação das Américas publicado no dia 10 de dezembro no Diário Oficial
acompanhado da mensagem: "Quase 30 milhões de reais em aluguel de carros,
só para o IBAMA…."
Na
sequência, Bolsonaro compartilhou a mensagem do ministro, elevando o tom.
"A certeza é; havia todo um sistema formado para principalmente violentar
financeiramente o brasileiro sem a menor preocupação!" Escreveu ainda que
seu governo está "em ritmo acelerado, desmontando rapidamente montanhas de
irregularidades e situações anormais que estão sendo e serão comprovadas e
expostas."
Nenhum dos
dois explicou se haveria algum problema com o contrato e, alguns minutos
depois, o presidente apagou seu post sobre o assunto. As mensagens se seguem a
uma sequência de ataques ao Ibama que Bolsonaro vem fazendo desde a campanha,
como a alegada existência de uma "indústria de multas" por parte do
órgão.
Em nota o
Ibama afirmou que tratava-se de uma "acusação sem fundamento" que
"evidencia completo desconhecimento da magnitude do Ibama e das suas
funções". Disse também que a "presidência do Ibama refuta com
veemência qualquer insinuação de irregularidade na contratação".
Segundo o
órgão, o contrato - de R$ 28,7 milhões - se refere à locação de "393
caminhonetes adaptadas para atividades de fiscalização, combate a incêndios
florestais, emergências ambientais, ações de inteligência, vistorias técnicas
etc". A nota acrescenta ainda que ele é válido para todo o País e
"inclui combustível, manutenção e seguro, com substituição a cada 2
anos".
O Ibama
informou também que "o valor estimado inicialmente para esse contrato era
bastante superior ao obtido no fim do processo licitatório, que observou com
rigor todas as exigências legais e foi aprovado pelo TCU".
Algumas
horas depois, Salles voltou ao Twitter para dizer que não havia levantado
suspeita sobre o contrato. "Apenas destaquei seu valor elevado, conforme
meus esclarecimentos na própria postagem. O valor elevado também foi
questionado pelo TCU desde abril e, portanto, não precisava ser assinado a dez
dias da troca de governo."
O Ibama
informou que se a locação não fosse assinada em dezembro, não haveria viatura
para fiscalização em janeiro. Reiterou também que o TCU aprovou o contrato.
Disse também que o valor obtido foi 10% inferior ao do contrato anterior
vigente e que contemplou 33 carros a mais que anteriormente.
Escolhida
pelo então ministro Sarney Filho, nomeado pelo ex-presidente Temer, Suely não
tinha expectativa de continuar no cargo. De fato ainda em dezembro, logo após
ser escolhido, Salles indicou que nomearia para o Ibama o procurador da Advocacia-Geral
da União (AGU), Eduardo Fortunato Bim.
Em seu
pedido de exoneração, Suely escreve: "Considerando que a indicação do
futuro presidente do Ibama, sr. Eduardo Bim, já foi amplamente divulgada na
imprensa e internamente na instituição ainda em 2018, antes mesmo do início do
novo governo, entendo pertinente o meu afastamento do cargo permitindo assim
que a nova gestão assuma a condução dos processos internos desta
autarquia."|correio* / Suely Araújo havia assumido o comando do Ibama na gestão do ex-presidente Michel Temer - Foto: José Cruz/Agência Brasil