Entidades representantes do movimento negro no país divulgaram nota hoje
(3) em repúdio a declarações da ministra dos Direitos Humanos do governo Michel
Temer, Luislinda Valois. Ontem, em entrevista à Rádio Gaúcha, a
ministra defendeu o direito de receber R$ 61,4 mil por mês, somando dois
vencimentos, como desembargadora aposentada e como ministra.

“Entendemos que
reivindicar privilégios e participar de um governo que quer acabar com os
direitos trabalhistas, com o combate ao trabalho escravo e as políticas de
inclusão racial, além de silenciar frente ao racismo religioso e as demais
violências sofridas pelos povos de terreiros e comunidades quilombolas em todo
o país, é um contra-senso”, afirma a nota do movimento negro.
Confira
a nota de repúdio às declarações da ministra
As entidades do movimento negro brasileiro repudiam as declarações da ministra
Luislinda Valois, que assim como fez o ministro do STF Gilmar Mendes, ao fazer
referência a tragédia da escravidão que submeteu milhares de negros a uma
condição perversa e desumana – um crime contra a humanidade, declarado pela ONU
– apropriou-se de forma oportuna desse fato histórico trágico para obter
benefícios próprios relativos ao seu salário.
Não obstante não nos furtamos em observar que esse ano o Juiz Sérgio Moro
percebeu o salário superior ao teto constitucional durante vários meses e a
justificativa para tal descalabro são as generosas cestas de auxílios e
adicionais eventuais comumente utilizados no expediente do sistema de justiça
para burlar o teto constitucional e assim beneficiar milhares de juízes Brasil
afora. O que também representa uma violência para a sociedade brasileira como
um todo.
Voltando a Ministra Luislinda, entendemos que reivindicar privilégios e
participar de um governo que quer acabar com os direitos trabalhistas, com o
combate ao trabalho escravo e as políticas de inclusão racial, além de
silenciar frente ao racismo religioso e as demais violências sofridas pelos
povos de terreiros e comunidades quilombolas em todo o país é um contra-senso.
A ministra é voz de um governo de privilégios e privilegiados que quer acabar
com os direitos trabalhistas, com o combate ao trabalho escravo e as políticas
de inclusão racial. Além de silenciar-se frente ao racismo religioso e às
violências sofridas pelos povos de terreiros e comunidades quilombolas em todo
o país.
Além de afrontar a dignidade da população negra, a posição da ministra é um
atestado cabal da falta de compromisso com o combate ao racismo e com
verdadeira cidadania de negros e negras. Não resta dúvida que estamos vivendo
um momento em que a violência contra as mulheres, negros, grupos LGBT,
quilombolas e índios está se naturalizando e a posição equivocada da ministra é
um retrato desses ataques.
A nomeação dessa senhora é reveladora do desapreço que o governo Temer tem pela
comunidade negra e o gravíssimo problema do racismo no Brasil.
Também é sintomático o fato de o Presidente Temer olhar para o Brasil e não
conseguir enxergar os milhares de homens e mulheres negras com altíssimo nível
de comprometimento político com os anseios e demandas da população negra para
ocupar qualquer cargo na Esplanada dos Ministérios, ou estaria ele ciente de
que a maioria de nós jamais compactuaria com um governo ilegítimo que se
instituiu através de opressões, desmandos e violências?
A ministra não representa o povo negro, não representa as mulheres negras e nem
aqueles que lutam pelo fim do racismo.
Estamos por nossa própria conta! O povo negro não vai se calar frente ao
racismo!
#ForaTemer
Assina:
Convergência Negra - Articulação Nacional do Movimento Negro Brasileiro.
Subscrevem:
Associação Brasileira de Pesquisadores Negros - ABPN
Agentes de Pastoral Negros - APNs
Círculo Palmarino
Coletivo de Entidades Negras - CEN
Coordenação Nacional de Entidades Negras - CONEN
Quilombação
Rádio Exu - Comunicação Comunitária de Matriz Africana
Movimento Negro Unificado - MNU
Rede Amazônica de Tradições de Matriz Africana - REATA
UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade
Enegrecer - Coletivo Nacional de Juventude Negra
Movimento Consciência Negra de Butia - RS
Setorial de Combate ao Racismo da CUT
Soweto
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