O segundo volume da PNS 2013 (Pesquisa Nacional de Saúde), divulgada
pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na manhã desta
terça-feira (2), mostra que 10,6% da população brasileira adulta (15,5 milhões
de pessoas) já se sentiram discriminadas na rede de saúde (pública ou privada).
A maioria disse ter sido tratada de forma diferenciada por motivos de
natureza econômica: 53,9% em função da falta de dinheiro, e 52,5% em razão da
classe social. Esse é o caso da universitária Kelly Mantovani, 21, que perdeu o
pai no último dia 20 de maio --ele ficou internado durante 18 dias por conta de
um câncer no intestino, em São Paulo, mas não resistiu à doença.
Segundo ela, a unidade de saúde não cuidou devidamente do paciente, pois
o seu plano de saúde era "mais simples". "A gente tinha que
ficar cobrando os exames e fiscalizando para que ele tomasse os remédios. Eles
trataram com pouco caso só porque o nosso plano de saúde é mais simples. A
internação dele só foi confirmada depois que a gente pressionou e ameaçou levar
para a imprensa."
Já a jornalista Narayhana Pereira, 24, relatou ao UOL ter
sentido na pele a atitude discriminatória de uma médica de um posto de saúde.
"Eu estava com o ouvido muito inflamado e, como a dor era insuportável,
procurei um posto de saúde. Mas a médica nem esperou eu falar nada. Ela disse
que eu, assim como várias outras pessoas que procuram o posto, só estava ali
para pegar um atestado médico. Ela achou que eu tinha faltado no
trabalho", contou.
Narayhana exigiu ser atendida por um outro profissional, que lhe
receitou um remédio para diminuir a dor. Na mesma semana, ela procurou um
hospital particular e iniciou um tratamento que durou cerca de 40 dias.
"Eu poderia ter perdido uma parte da audição porque a médica agiu de forma
inexplicável. Sinceramente, eu não sei porque ela fez isso. Ela falou que me
daria uma injeção e pronto, pois eu só estava ali por causa de um
atestado", declarou.
De acordo com a metodologia utilizada pelo IBGE, os entrevistados
poderiam assinalar mais de um motivo para justificar a razão pela qual se
sentiram discriminados. Pouco mais de 13% afirmaram que haviam sido vítimas de
preconceito racial, e 8,1% responderam religião ou crença. Apenas 1,7%
relataram que foram vítimas de homofobia.
O IBGE explicou ainda que as estatísticas da Pesquisa Nacional de Saúde
não são comparáveis com outras publicações do instituto, pois a pesquisa tem um
"desenho próprio" (fatores que não haviam sido abordados antes).
Dessa forma, não seria possível estabelecer séries históricas cruzando as
informações com o suplemento de saúde da Pnad (Pesquisa Nacional de Amostra por
Domicílios).
Os entrevistadores do IBGE estiveram em pouco mais de 80 mil domicílios.
O Brasil possui, segundo o IBGE, cerca de 65 milhões de residências.
O primeiro volume da PNS, divulgado em dezembro do ano passado, continha
capítulos como a percepção do estado de saúde, as doenças crônicas não
transmissíveis e o estilo de vida. Na ocasião, o UOL mostrou
que quase metade dos brasileiros é sedentária, 15% fumam e 28% veem muita
TV. A hipertensão e os problemas na coluna eram as principais doenças dos
brasileiros.
Intervalo de confiança
Por ser uma pesquisa por amostra, as variáveis divulgadas pela PNS estão
dentro de um intervalo numérico, que é o chamado "erro amostral". Não
há uma margem de erro específica para toda a amostra.
Para cada caso, é calculado o intervalo de confiança. "Isso quer
dizer que, em 95% das vezes que eu pegar uma amostra e calcular o indicador,
ele estará dentro daquele intervalo. (...) Quanto menor o intervalo de
confiança, melhor é", explicou Maria Lúcia Vieira, gerente da Coordenação
de Trabalho e Rendimento do IBGE.
Diferentemente das pesquisas eleitorais, que têm apenas um indicador em
destaque (a intenção de votos de determinado candidato), a PNS tem vários
indicadores e o valor de cada um deles oscila dentro do seu intervalo
específico. |Uol