O primeiro discurso político do senador Aécio Neves (PSDB-MG) ontem na tribuna do Senado durou exatos 25 minutos, mas mobilizou o plenário por cerca de quatro horas. Aécio, um dos nomes mais cotados da oposição para disputar o Palácio do Planalto em 2014, criticou particularmente o PT e a gestão Lula (2003-2010). Segundo ele, "entre os interesses do País e a conveniência do partido, o PT escolheu o PT".
Ele abriu o discurso, que se propunha a dar rumo à oposição, afirmando ser um "homem do diálogo que não confunde agressividade com firmeza nem adversário com inimigo". Mas foi duro nos ataques ao que nomeou de "desarranjo fiscal que penalizará investimentos anunciados com pompa e circunstância e à farra da gastança descontrolada", especialmente em ano eleitoral, que faz "renascer a crônica e grave doença da inflação".
O candidato tucano derrotado à Presidência José Serra acompanhou o discurso. Serra estava em Brasília desde anteontem e foi convidado pelo próprio Aécio para estar no Senado, o que provocou estranheza em parte dos tucanos, pois ambos disputam o poder no comando do partido. "Foi uma contribuição", limitou-se a comentar Serra ao final da fala do mineiro.
TRECHOS
"Os que ainda não me conhecem bem e esperam encontrar em mim ataques pessoais no exercício da oposição vão se decepcionar. Não confundo agressividade com firmeza. Não confundo adversário com inimigo. Os que ainda não me conhecem bem e acham que vão encontrar em mim tolerância diante dos erros praticados pelo governo, também vão se decepcionar.
O PT nos governos de Itamar e Fernando Henrique
Para enfrentar a grave desorganização da vida econômica do país e a hiperinflação que penalizava de forma especial os mais pobres, o governo Itamar criou o Plano Real. Neste momento, o Brasil precisou de nós e nós estávamos lá. Os nossos adversários não.
Sob a liderança do presidente Fernando Henrique aprovamos a Lei de Responsabilidade Fiscal para proteger o País dos desmandos dos maus administradores. Nossos adversários votaram contra. E chegaram ao extremo de ir à Justiça contra essa saneadora medida, importante marco da moralidade administrativa do Brasil.
O PT no governo Lula
Sempre que precisou escolher entre os interesses do Brasil e a conveniência do partido, o PT escolheu o PT. Por isso, não é estranho a nós que setores do partido tentem, agora, convencer a todos de que os seus interesses são, na verdade, os interesses da nação. Nem sempre são. Não é interesse do País que o Poder Federal patrocine o grave aparelhamento e o inchaço do Estado brasileiro, como nunca antes se viu na nossa história.
Governo Dilma
Não ocupo essa tribuna para fazer uma análise dos primeiros meses do governo da presidente Dilma Rousseff. O processo de governança instalado à frente do País - com suas falhas, equívocos, mas também virtudes -, não conta apenas alguns dias. Pontua-se, de forma concreta, o início do nono ano de um mesmo governo. Quase uma década. Ainda que seja nítido e louvável o esforço da nova presidente em impor personalidade própria ao seu governo, tem prevalecido a lógica dominante em todo esse período e suas heranças. Não há ruptura entre o velho e o novo, mas o continuísmo das graves contradições dos últimos anos.