Passado
o período de recolhimento após a derrota nas urnas, os presidenciáveis Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva(Rede) deram o
primeiro passo nesta quarta-feira, numa conversa em Brasília, para a formação
de uma frente de centro-esquerda no Congresso. O bloco partidário, além de
consolidar a ruptura dessas legendas de esquerda com o PT, marcaria o início de
uma “oposição programática” ao governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro.
Iniciado
pela cúpula pedetista no fim do primeiro turno, o processo de distanciamento do
petismo tem o objetivo de abrir caminho à candidatura de Ciro ao Planalto em
2022. Ao relatar a conversa que teve com Marina, Ciro fez questão, no entanto,
de dizer que os dois não trataram de projeto eleitoral, mas sim de uma agenda
comum de oposição pontual a Bolsonaro, sem a desconfiança de que o novo governo
represente uma ameaça à democracia.
— Eu e Marina somos muito amigos e
partilhamos de algumas preocupações. Fui propor a ela uma rotina de diálogo.
Precisamos criar uma frente não oportunista de guarda dos interesses da
institucionalidade democrática, porque o PT introduziu uma retórica de que a
democracia brasileira estava em risco. Nós não vemos assim até o presente
momento — disse Ciro.
Segundo ele, a intenção do futuro bloco é
reconhecer a legitimidade do novo presidente eleito e desejar que ele
"acerte a mão" na condução do país. Enquanto isso, farão uma
"oposição programática" seguindo alguns princípios comuns, como a
vigília às instituições e a defesa dos interesses dos mais pobres.
— Eu, com a chancela do meu partido, acho que
a hegemonia pouco crítica que o PT nos impôs nesses 20 anos já deu, passou da
conta e fez muito mal ao Brasil. Não existiria Bolsonaro sem o antipetismo. E o
antipetismo foi introduzido por eles, petistas. Seria uma impertinência falar
em 2022. O esforço que devemos ao país é de unidade. Eleição divide — afirmou.
A ex-ministra do Meio Ambiente falou do
encontro com Ciro pelas redes sociais: "Hoje, recebi a visita do Ciro
Gomes em Brasília. Trocamos ideias sobre o desafio de uma oposição democrática,
que seja comprometida com o desenvolvimento sustentável, a defesa das
instituições e do interesse nacional", escreveu.
Ciro obteve, ao fim do primeiro turno, 12,5%
dos votos, chegando a 13,3 milhões de eleitores. Já Marina fez 1% dos votos,
colhendo o apoio de pouco mais de um milhão de brasileiros.
No Senado, já está em campo a construção, a
partir da articulação do senador eleito Cid Gomes (PSB-CE), irmão de Ciro, de
um bloco formado por PSB, Rede, PPS e PHS. Na Câmara, outro bloco montado por
PDT, PSB e PCdoB, com potencial de adesão de PV e PPS também é discutido.
— Queremos protagonizar um movimento nas duas
casas, não necessariamente com quadros nossos. O que nos difere do PT é que nós
não enxergamos que as instituições estejam correndo um risco. O PT é sempre
assim: imaginam um monstro e depois querem aparelhar todos para derrotar o
monstro que eles mesmos criaram. Quem criou o Bolsonaro foi o PT — avaliou Cid,
reverberando o discurso de Ciro.
Depois da reunião com Marina, Ciro seguiu
para a sede do PDT para um almoço com a bancada eleita da sigla. A legenda
passou de 21 para 29 deputados. Nesse encontro, os deputados assinaram um
documento aprovando a criação da frente de partidos. A discussão segue agora
com representantes das outras siglas. [oglobo / Foto Reprodução/Twitter ]